Não! O lanterneiro também tem família. Muitos clientes me procuram com amassados com a tinta quebrada, e me pedem para retirar o amassado para depois pintarem a peça avariada, evitando assim o uso da massa, muito utilizado na lanternagem convencional. Isso não é possível, pois precisamos do brilho da tinta para corrigir com perfeição as formas originais do veículo, e de nada adianta pintar em cima de uma superfície irregular, cheias de imperfeições, pois a tinta não corrigirá essas irregularidades, e o resultado final será uma chapa cheias de ondulações e visivelmente mal acabada. Se houver na chapa um arranhão superficial, isso não impede a realização do trabalho, embora o arranhão ficará remanescente.
Amassados ou mossas em regiões muito duras, como colunas ou vértices de porta-malas, dependem de uma avaliação criteriosa do profissional. Embora nessas regiões alguns amassados não aparentam trincados, a tinta sofreu um abalo e no procedimento de retirada ela pode não suportar mais uma pressão em cima dela. Há casos em que só em olhar eu já dou um diagnóstico para cliente, outros que vão depender do comportamento da tinta durante o procedimento. Carros mais antigos, ou repintados tem probabilidade maior de quebrar a pintura. Os casos em que eu não tenho certeza, eu costumo acordar um teste com o cliente. Este teste se resume em aplicar a técnica, e medir assim a capacidade da tinta de suportar o procedimento. Uma vez que a tinta resista, o procedimento é levado até o final, até a recuperação total do amassado, não podendo ser interrompido. Se a tinta se mostrar fragilizada, é possível perceber com um pequeno trincado, e ai o trabalho é interrompido, sem nenhum custo para o mesmo pelo teste que eu realizei. Esse é o meu procedimento, e não deve, de maneira nenhuma, ser visto como o critério de todos os profissionais, além do mais o que para mim é imperfeito, pode atender a exigência de qualidade de muitas pessoas.
Outro ponto que pode impossibilitar a recuperação de um amassado, é sua localização. O trabalho é realizado na sua maior parte de dentro pra fora, e a estrutura interna do carro dita algumas normas; carros blindados, colunas com chapas duplas, são alguns dos possíveis impedimentos. Para amassados nessas regiões há o recurso da cola quente associada a uma espécie de spotter mecânica, mas existem casos e casos. Costumo dizer que o amassado apresenta suas dificuldades e eu apresento meus recursos, é uma briga entre mim e o amassado, que no final, espero, eu seja o vencedor.
Alguns amassados muito pontiagudos existe um estiramento da chapa, que dizemos, vulgarmente, que a chapa está estressada, pois ela se reveza em amassados côncavos e convexos, sem se estabelecer na sua posição correta. Uma chapa estressada pode ser recuperada, mas também vai depender do comportamento dela e da resposta que essa chapa vai dar ao procedimento, podendo ter sucesso ou não em sua recuperação. Toda probabilidade de não sucesso no resultado final do trabalho, eu costumo falar para o cliente antes de iniciarmos os trabalhos, pois não existe milagres, existe uma técnica e suas limitações, e sempre digo pra os clientes para quem marco teste, que se não obtiver sucesso ele perderá um pouco do tempo dele e eu do meu. Prefiro deixar o cliente informado sobre tudo, sobre todas as possibilidades, para não criar falsa expectativa e frustrações. Em noventa por cento dos casos em que eu marco um teste, eu obtenho sucesso. Quando afirmo que uma amassado não é possível de ser recuperado, estou avaliando este amassado dentro do meu conceito de qualidade, pois todo amassado fica melhor, mas no meu ponto de vista ele não tem que ficar melhor, ele tem que ficar perfeito. Informação é um direito do consumidor.
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